Om é o arco, a seta é a alma
Fishing © Rudi Kokic
"(...) Siddhartha raramente conseguia levá-lo a falar.
Uma vez perguntou-lhe:
- Também aprendeste esse segredo do rio, quero dizer, que o tempo é coisa que não existe?
Um sorriso luminoso alastrou pelo rosto de Vasudeva.
- Sim, Siddharta - respondeu. - Queres dizer que o rio está em toda a parte ao mesmo tempo, na nascente, na foz, na catarata, no molhe, na corrente, no oceano e nas montanhas, em toda a parte, e que para ele existe apenas o presente e não a sombra do passado nem a sombra do futuro?
- Exactamente. E quando aprendi isto passei em revista a minha vida e ela também era um rio, e Siddhartha moço, Siddhartha homem maduro e Siddhartha velho encontravam-se separados apenas por sombras e não pela realidade. As anteriores vidas de Siddhartha também não pertenciam ao passado e a sua morte e o seu regresso a Brame não pertencem ao futuro. Nada foi, nada será, tudo tem realidade e presença....
Não é verdade, meu amigo, que o rio tem muitas vozes? ....
Assim é - concordou Vasudeva. - As vozes de todas as criaturas vivas estão na sua Voz. (...)"
Hermann Hesse, Siddhartha, pp. 113-114 - 1974
* o título deste post foi extraído do livro acima referido, p. 14.
5 comentários:
Um rio é o constante renovar de águas que marcam o presente. E quando a que vai, parte em direcção à foz, chega outra vinda das montanhas para ocupar o seu lugar, e não damos pela substituição, apenas pela sua força, pela sua corrente, que nos arrasta, que nos empurra, ou que nos mantém no hoje, por vezes à espera do amanhã, outras recordando o ontem.
sabedoria que sabe bem ler. obrigada.
beijos
Este é um belo texto de Siddhartha.
Às vezes sentimos que todos os rios do mundo nascem por dentro dos nossos olhos...
Um beijo Gisela.
Gostei de conhecer este seu espaço, onde o sonho é matriz...
Parabéns.
Cristina Fernandes
Preciosa fotografía, la composición de la barca con el reflejo es buenisima !
Un verdadero gusto pasarme por aquí !
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