26 maio, 2009

um lugar fora do tempo


Reflections, Omar Gencal, em http://1x.com/photos/nature/24353/


Contra el bulicio invento la Palabra, libertad que se
inventa y me inventa cada día.


Octávio Paz


Naquele caminho avisto pela manhã
o estuário do Tejo a desaguar no mar
o olhar ondula no horizonte das gaivotas
e nos rostos que se cruzam silenciosos
prisioneiros de pensamentos

rumo à rua mais íngreme meus passos caminham
para uma porta paralela do tempo
onde há uma praça com um lento jardim verde
e no seu centro minha alma vagueia sem peso
as árvores antigas dão guarida às rolas
e nas ramagens mais extensas os esquilos cor de fogo
pulam em movimentos graciosos

na casa encontro o lugar de um silêncio
as paredes articulam vidas em trânsito
e as árvores transparecem amarelas vistas de dentro

na casa o silêncio é um lugar que conquista
as portas que se abrem para o corredor
e ao fundo entro na portada que me leva
à espiral da linguagem à suspensão do tempo
onde não há relógios que confiram o valor
da magia encontrada nas mãos de um poeta

Gisela Rosa, Vasos Comunicantes Diálogo Poético com António Ramos Rosa, p.75, 2006.

9 comentários:

Luís Mendes disse...

Li aqui que o tempo parou.

**

José Manuel Vilhena disse...

Gosto das "árvores(...)vistas de dentro".
A imagem que escolheu é de uma beleza indizível.

um beijinho

PAS[Ç]SOS disse...

Sussurros que nos impelem por paisagens pintadas em telas de mil sabores à espera do silêncio onde só escrevem as horas do POETA!

Anónimo disse...

a fotografia é lindíssima, gisela. gosto muito de transparências e reflexos. e a árvore do seu poema é também uma árvore dupla, com as palavras de um lado do tempo e o efeito delas do outro lado... um grande beijinho.

mariab disse...

belíssimo poema, Gisela. encontrei esse silêncio que "é um lugar que conquista".
beijos

Eleonora Marino Duarte disse...

gisela,

é um poema com tantas imagens que poderia ser chamado "visual". o quadro pintado pelas palavras tem colagens de grande intensidade e faz crer na luz interior de cada objeto, de cada ser comprometido com a montagem da cena. belíssimo.

um grande beijo!

simplesmenteeu disse...

É nesse olhar que a alma se despe do que está a mais e faz do silêncio a sua própria essência.

O tempo suspendeu-se... ficou a beber as palavras.

um beijo

disse...

A fotografia escolhida é linda, obriga-nos realmente a parar e absorver a beleza, juntamente com a poesia.
Gostei!
Bjinhos do Porto

Graça Pires disse...

Um poema belíssimo em diálogo com Ramos Rosa. Como eu gostei, Gisela , da casa como um lugar de silêncio e da magia encontrada nas mãos do poeta...
A fotografia, lindíssima: um diálogo de luz e sombra.
Um grande beijo.