19 maio, 2009

e é nesse lugar ínfimo


Joan Miró, Cantic del sol, 1975


Primavera primeira


estremeço desde o princípio do meu rosto
desde o momento em que sorri e me sorriram
e é nesse lugar ínfimo que suspendo todas as palavras
que fecho os olhos e sinto a frescura de todas as águas
o oceano que cessa e atende o esvoaçar da primavera

é a primeira primavera de todos os outonos
é aqui que em silêncio se bordam os calendários
dias entre dias e sobre dias e as memórias que escapam
e não mais se alcançam se não nos tornamos menores
— no futuro não há esquecimento nem segredos
cada coração guarda apenas o que for mais comum


Vasco Gato, Um Mover de Mão, Assírio & Alvim, Lisboa, 2000

*O título foi retirado de um verso do poema de Vasco Gato
.

6 comentários:

PAS[Ç]SOS disse...

O cruzamento de dois sorrisos é um despertar memorável em que a Primavera refresca o Verão pelo qual o coração anseia.

Anónimo disse...

gosto muito de ler o vasco gato. ele tem um dom de palavras que não é comum... obrigada, gisela. um beijinho.

Eleonora Marino Duarte disse...

...é bonito demais...

sincero, muito tocante.

fico feliz por tomar conhecimento dele,

um beijo.

José Manuel Vilhena disse...

"e não mais se alcançam se não nos tornamos menores"
ou do tamanho do mundo,que é talvez a forma maior e menor da mesma coisa.

um beijinho

Gisela Rosa disse...

Passos, este poema de Vasco Gato é tão verdadeiro..."cada coração guardaapenas o que for mais comum"...muito obrigada pelo seu comentário, volte sempre, um abraço!

alice, descobri Vasco Gato há pouco tempo nos textos do prof. Luís Carmelo com o qual estou a fazer um curso de poesia portuguesa contemporânea e identifiquei-me de imediato com a sua escrita. Um beijinho alice.


Obrigada Betina, volte sempre, é bem-vinda. Um beijinho.


JMV, as suas palavras sempre sábias...obrigada! Um beijinho

Marta disse...

Amei :)