Nioki...Republica Democrática do Congo, fotografia de Rui Manuel Machado Rodrigues
em http://olhares.aeiou.pt/sem_comentarios_foto2549261.html
O nosso olhar não tem fronteiras ou estações
não é uma arma que dispara um tiro
imediatamente o espaço é a inocência do seu dom
ao sol e na sombra a sua projecção imperceptível
Para uma longínqua estrela uma árvore ou uma flor no chão
não necessita de uma medida as distâncias equivalem-se
o olhar não nos pertence como um instrumento ou um meio
a sua límpida visão vem de uma obscura esfera
e no seu átrio o ponto de partida não é o ponto
mas a abertura imediata que nos projecta no espaço
imperceptivelmente numa visão de um instante
e o visível é a evidência do real
de um fascínio de qualidades puras
de surpresa em surpresa de cores formas e tons
respirados pelo corpo na sua mais ampla latitude
António Ramos Rosa, O nosso Olhar,
in Revista Mealibra nº 3, Outono de 2008
(poema passado a computador por Gisela Rosa em 28-12-2004)
* O meu tio António Ramos Rosa pediu-me que publicasse este poema no meu blog. Tarefa que
agora cumpro associando ao poema a imagem extraordinária de Nioki da autoria de Rui Rodrigues,
a quem muito agradeço.
8 comentários:
A fotografia é poderosa e com um poema bem a propósito... Bnoite!!!
É lindíssima a associação entre a imagem e o poema, nem podia ser de outra maneira.
um beijinho
O olhar é uma mão que pousa, mas escorrega se o observado não o sente; o olhar é uma mão que pousa e penetra se desejarmos deixá-lo mergulhar.
Esses olhares, o da imagem e o do poema, não nos traem. São!
Bjs
Um olhar que não sabe o futuro, inocente.
Depois, um olhar sobre os olhares. Mesmo os mais distantes.
Linda a foto (mesmo que me "incomode").
Lindas as palavras do Poeta!
Beijo
A foto é de uma grande delicadeza
e de uma grande capacidade de apreensão... do olhar.
Quanto ao poema: "o olhar não nos pertence como um instrumento ou um
meio (...) é abertura imediata que nos projecta no espaço..."
O que é que eu posso dizer? É tão rico que dava para umas aulas sobre a percepção... e não só.
Abraço.
Seu tio é um filósofo que faz poesia, Gisela. Belo e profundo poema. E que foto!
Beijo.
Te os poemas do meu tio não têm fronteiras ou estações, como diz o poema, e esta fotografia de Nioki, também não....são belos por isso os escolhi, um grande abraço!
JMV, obrigada pelas suas palavras, a associação do poema à imagem com a intuição "ao sol e na sombra a sua projecção imperceptível". Um abraço
Passos, "o olhar é uma mão que pousa" sim, "e o vísivel é a evidência do real". Um abraço e obrigada!
Mateo, as suas palavras são certeiras....Um grande abraço!
O´Sanji, muito obrigada pela sua apreciação, sempre "respirada pelo corpo na sua mais ampla latitude"; um grande abraço!
Victor, obrigada! Efectivamente não somos donos do olhar, ele arrebata-nos! Gosto das tuas palavras e pensamentos.
Adelaide, o poeta é sem dúvida um filósofo, incontornável e nele tem sempre o "fascínio de qualidades puras", um beijo!
Muito obrigada a todos por terem passado por aqui, com um terno abraço!
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