03 março, 2009

O nosso olhar

Nioki...Republica Democrática do Congo, fotografia de Rui Manuel Machado Rodrigues
em http://olhares.aeiou.pt/sem_comentarios_foto2549261.html



O nosso olhar não tem fronteiras ou estações
não é uma arma que dispara um tiro
imediatamente o espaço é a inocência do seu dom
ao sol e na sombra a sua projecção imperceptível

Para uma longínqua estrela uma árvore ou uma flor no chão
não necessita de uma medida as distâncias equivalem-se
o olhar não nos pertence como um instrumento ou um meio
a sua límpida visão vem de uma obscura esfera
e no seu átrio o ponto de partida não é o ponto
mas a abertura imediata que nos projecta no espaço
imperceptivelmente numa visão de um instante
e o visível é a evidência do real
de um fascínio de qualidades puras
de surpresa em surpresa de cores formas e tons
respirados pelo corpo na sua mais ampla latitude

António Ramos Rosa, O nosso Olhar,
in Revista Mealibra nº 3, Outono de 2008

(poema passado a computador por Gisela Rosa em 28-12-2004)


* O meu tio António Ramos Rosa pediu-me que publicasse este poema no meu blog. Tarefa que
agora cumpro associando ao poema a imagem extraordinária de Nioki da autoria de Rui Rodrigues,
a quem muito agradeço.

8 comentários:

disse...

A fotografia é poderosa e com um poema bem a propósito... Bnoite!!!

José Manuel Vilhena disse...

É lindíssima a associação entre a imagem e o poema, nem podia ser de outra maneira.

um beijinho

PAS[Ç]SOS disse...

O olhar é uma mão que pousa, mas escorrega se o observado não o sente; o olhar é uma mão que pousa e penetra se desejarmos deixá-lo mergulhar.

adouro-te disse...

Esses olhares, o da imagem e o do poema, não nos traem. São!
Bjs

O'Sanji disse...

Um olhar que não sabe o futuro, inocente.
Depois, um olhar sobre os olhares. Mesmo os mais distantes.

Linda a foto (mesmo que me "incomode").
Lindas as palavras do Poeta!

Beijo

Victor Oliveira Mateus disse...

A foto é de uma grande delicadeza
e de uma grande capacidade de apreensão... do olhar.

Quanto ao poema: "o olhar não nos pertence como um instrumento ou um
meio (...) é abertura imediata que nos projecta no espaço..."

O que é que eu posso dizer? É tão rico que dava para umas aulas sobre a percepção... e não só.

Abraço.

dade amorim disse...

Seu tio é um filósofo que faz poesia, Gisela. Belo e profundo poema. E que foto!
Beijo.

Gisela Rosa disse...

Te os poemas do meu tio não têm fronteiras ou estações, como diz o poema, e esta fotografia de Nioki, também não....são belos por isso os escolhi, um grande abraço!

JMV, obrigada pelas suas palavras, a associação do poema à imagem com a intuição "ao sol e na sombra a sua projecção imperceptível". Um abraço


Passos, "o olhar é uma mão que pousa" sim, "e o vísivel é a evidência do real". Um abraço e obrigada!

Mateo, as suas palavras são certeiras....Um grande abraço!

O´Sanji, muito obrigada pela sua apreciação, sempre "respirada pelo corpo na sua mais ampla latitude"; um grande abraço!


Victor, obrigada! Efectivamente não somos donos do olhar, ele arrebata-nos! Gosto das tuas palavras e pensamentos.


Adelaide, o poeta é sem dúvida um filósofo, incontornável e nele tem sempre o "fascínio de qualidades puras", um beijo!



Muito obrigada a todos por terem passado por aqui, com um terno abraço!