05 fevereiro, 2009

Desejava construir um poema

Landscape with Yellow Birds, Paul Klee


je peins pour me déconditionner"

Henri Michaux
Passages, Gallimard 1963, p. 142


Desejava construir um poema

como se estivesse a flutuar na água que acolhe um barco

na margem que promete outra paragem

Desejava criar palavras brancas

onde todas as cores pudessem realçar formas figuras, as coisas


Desejava mostrar como sinto o real como o real me sente

quando olho uma criança uma flor um pássaro uma nuvem

ou escuto os sons de uma guitarra

enquanto a chuva incendeia as paredes do meu quarto

por isso calco com os meus dedos o tempo passageiro

nomeio sem querer conquistar o si das coisas

e o poema essa extensão do meu eu

é “um movimento no meio da multidão”*


Gisela Rosa


* poema publicado na revista Mealibra, 2006

7 comentários:

vieira calado disse...

Gostei do seu poema que,
em certos aspectos,
enumera o mote da própria poesia.

Bjs

ana salomé disse...

e no querer fazer-se se fez*

muito bonito.

beijo*

Graça Pires disse...

Desejar construir um poema. Como se a página em branco se transformasse num remorso e não soubessemos como evitar a sede ou a solidão...
É um belo poema, o seu, Gisela.
Um grande beijo.

Anónimo disse...

gisela:
obrigado pelo link.
romério

Henrique Dória disse...

Somos feitos de sonhos.Visita, de vez em quando, o odisseus, e deixa o teu comentário.Beijos

Victor Oliveira Mateus disse...

Klee, Michaux e o nomear sem querer
conquistar o "si" das coisas, parecem-me três boas opções estéticas.
Um abraço, Gisela

Gisela Rosa disse...

Muito obrigada a todos por me darem o vosso eco. Um grande abraço a todos!