22 janeiro, 2009

Se o poema nasce

A flor da magnólia, fotografia de Gisela Rosa



A palavra poética nunca pode ser falsa porque é total

Roland Barthes, O grau zero da escrita, p. 43



Se o poema nasce
de um lugar onde brota uma corrente
uma lamparina de música ou de água
eclode na margem no litoral da página

e a distância é um remo em movimento
que desenha a incansável linha
do teu rosto

como se escrevesses evidências lentas
de uma ferida espessa que não sangra
por nela teres vertido as palavras brancas
de um léxico sereno

e se na distância construímos a presença
deste afluente com a cor do âmbar
sabemos que o poema é um arco azul
por onde leves e dóceis olhamos
a harmoniosa dança das corolas

Gisela Rosa

12 comentários:

José Manuel Vilhena disse...

“de um lugar onde brota uma corrente
uma lamparina de música ou de água”

É desta ondulação que se desprende a claridade de que lhe falo.
Também podiam ser dunas, mas isso é porque eu devo ter uma costela de beduíno e gosto de desertos.
Gosto imenso deste poema.

firmina12 disse...

amo barthes e este poema acrescenta-me algo à vida

Anónimo disse...

Caro José Vilhena, obrigada pelos seus comentários. O branco da flor da magnólia é uma ilha no seio da árvore, tal como no deserto onde às vezes também despontam flores. Um abraço

Anónimo disse...

Luísa que sensação boa saber o que me diz! Obrigada pela visita, um beijinho

Graça Pires disse...

No litoral da página, um poema com palavras brancas e cor do âmbar, como se o poema fosse um arco azul a desenhar as mãos...
Belíssimo poema Gisela. Excelente
a fotografia.
Um beijo.

Carla Ribeiro disse...

Magnífico, Gisela! A sua escrita é um elixir para os sentidos.

disse...

Aproxima-se o tempo das magnólias e o nosso olhar fotográfico vibra. Essa ficou demais... gostei do tom usado e do poema a acompanhar. Bfdsemana!

Gisela Rosa disse...

Graça, a sua leitura dá-me a mão.
um beijo.


Carla és um eco de sentido nos meus sentidos, volta sempre


Te, esta flor foi registada no ano passado e é de uma árvore que habita junto a mim. Voltarei a fotografá-la, de novo, obrigada e bons clicks!



Obrigada a todos!

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Que lindo, Gisela!
Se o poema nasce, somos poeta. E tu és uma de primeira grandeza.
beijo no coração
Amei a foto!

Anónimo disse...

Obrigada Elizabeth por seu alento! Um grande abraço!

Marinha de Allegue disse...

Se a palabra brota o poema nace...

Unha aperta Gisela.
:)

Gisela Rosa disse...

Marinha de Allegue,
o teu rosto é transparente

abraço apertado para ti também,