06 março, 2011

....a linha alta dos sonhos

Tecto de uma das salas do museu da catedral (Sé) de Faro.




há uma estrela entre mim e o mundo
quando sonho

avisto homens que falam em redor dos meus olhos
trazendo outras páginas do Livro, não sei se nos aproximamos
no sonho

há sons, muitos sons que se cruzam num território de palavras
e pensamentos escritos em superfícies líquidas
como conchas húmidas cheias de areia da ria

há uma luz caligrafada nos muros
sempre que o silêncio é a boca, há uma outra voz
ou estrela no tecto que fala do pensamento

há homens que escavam a linha alta dos sonhos


Gisela Ramos Rosa 6-03-2011




17 comentários:

Breve Leonardo disse...

[onde pousa o pó das estrelas que se risca no céu, da boca ganham forma na mão semelhantes palavras... onde se pousam calmos silêncios]

um imenso abraço, Gisela

Leonardo B.

João Menéres disse...

> ...há homens que escavam a linha alta dos sonhos <

( Já me não lembto se alguma vez entrei na Sé...
mas da próxima vez que fôr a Faro, vou tentar ser iluminado poe essa estrela...).


Um beijo, GISELA.

myra disse...

gostei imensamento das tuas palavras!!!!!
beijos

gisela rosa disse...

Leonardo,

a sua leitura traz-me sempre a poesia em compreensão, obrigada meu amigo
pelo retorno desta estrela ao alto

Um abraço


João, este poema é um resumo do que vi na minha estadia em Faro (desta vez)....muito subjectivo portanto, mas tens razão existe essa estrela na Sé...e muitos homens a escavarem a linha dos sonhos....

Abraço João


Myra minha querida, ainda bem que que voltaste aqui....um beijinho!

M.B. disse...

Bom dia Gisela:

Transcrevo um pequeno texto de um autor actual e faço um pequeno exercício a partir dele:

Texto:
“Vem ver o dia crescer entre o chão e o céu - Cecília Meireles

Trata-se, em primeiro lugar, podemos pensar, de uma mentira. O dia não cresce. Porém, as coisas não são assim tão simples.
Antes do mais, note-se neste verso que o crescer de um dia não é em direcção a um sítio alto qualquer. O dia poderia crescer em direcção ao topo de um edifício. Mas não. Cresce em direcção ao céu.”

Exercício:
"Há uma estrela entre mim e o mundo quando sonho" - Gisela Rosa
Temos portanto quatro elementos: a estrela, o eu, o mundo e o sonho. Rigorosamente há ainda outro elemento: a existência, “há”. E qual o lugar (e, já agora, o estatuto) de cada elemento? Aqui as coisas complicam-se: se olho para o céu na noite escura e sem nuvens, vejo estrelas. Nesse caso posso dizer que entre mim e as estrelas não há nada (ou só há atmosfera e, eventualmente, outros astros). Mas se sonho, o que é que há entre mim e o mundo? Uma estrela? No sonho o que há são imagens de mim, do mundo, das estrelas,… E as imagens não seguem as leis da física: podem sobrepor-se, compor-se, justapor-se, etc. Portanto, poderíamos dizer:
"Há um mundo entre mim e a estrela quando sonho" ou
"Há um eu (mim) entre a estrela e o mundo quando sonho".
Suponhamos que o real é o sonho. Então a existência, o “há”, é desnecessário. E também o espaço, “entre”, se dispensa. Mas a estrela da abóbada da igreja está lá e é colorida. E as palavras não a podem representar. Temos de vir atrás para a ver. E não há diferença entre ver e sonhar. Mas há diferença entre ver e tocar e entre ver e ouvir. Será que podemos dizer:
"Há um único mistério: sentir"?
M.B.

Gisela Rosa disse...

M.B.

Muito obrigada por trazer Cecília Meireles e pela reflexão que faz.

A poesia para mim é um lugar de liberdade imagética em que ensaio muitas vezes a apreensão do mundo através do que sinto. Bem sei que os sentidos podem ser falaciosos, mas há várias escalas nos sentidos...o primeiro lugar a partir do qual apreendemos o que nos rodeia é corpo e eu rejo-me por esse princípio. Depois, em poesia posso ser eu e também o que trago dentro de mim.....no poema a estrela é a ponte que me liga ao mundo, sentindo o mistério do que me rodeia. Cada sentido tem a sua especificidade e qualquer deles produz "imagens" mentais que se podem sobrepor, ou não. A visão cria volume nas representações mentais...a realidade não será a dinâmica mental sonhada que trazemos em nós? enfim,

acredito que cada um possa desenvolver mais ou menos cada sentido e a forma como sente o mundo, daí que o que sentimos possa ser Mistério, tal como a palavra que leva consigo um pouco de nós para o mundo....

Muito obrigada MB, volte sempre!!

Ana Oliveira disse...

Abençoados esses que "escavam a linha alta dos sonhos" a abrir-nos o caminho de sonhar, a mostrar-nos a rota do sonho, a ajudar-nos a ganhar asas...assim a sua escrita Gisela
Obrigada

Gisela Rosa disse...

Muito obrigada Ana,

As suas palavras pintam este quadro.
Sempre grata pela sua presença!
Um beijinho

Mar Arável disse...

Há estrêlas coladas

no tecto do mundo

que as palavras desvendam

Graça Pires disse...

Há pessoas que rastejam até aos sonhos pelo lado nmais escarpado da vida...
Um belíssimo poema, Gisela.
Um grande beijo.

tb disse...

Escavando a linha do sonhar alto com palavras que apelam ao poemar. :) que belo G. e a foto também. Parabéns com um beijinho

tecas disse...

« há uma estrela entre mim e o mundo quando sonho...» Simplesmente delicioso para terminar lindamente:
«...há homens que escavam a linha alta dos sonhos.»
Genial.

Will disse...

Lindo poema, parabéns!

aos tais homens é dado o poder de pairar na superfície do lago de um olhar ou de mergulhar fundo nesse mesmo olhar.

Abs

Chinezzinha disse...

adorei ler as tuas palavras!
belíssimo!
beijo

Gabriela Rocha Martins disse...

.......para que os POETAS os desnudem

( amei )

.
um beijo

Gisela Rosa disse...

Mar

entre o tecto do céu e o tecto da terra só existe Mar... e palavra...


Esse lado de que fala, Graça, traz a planície do sonho tranquilo..beijo com vontade de lá estar no dia 19 de Março



tb, os sonhos são chaves da realidade... um beijinho e obrigada

teca, A., Ramon,
muito obrigada por desvendarem esta página de sonhos-...



Gabriela,

claro que sim, os sonhos devem ser ditos para poderem chegar mais longe....


Um beijo grato

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Gisela, tuas palavras sempre me surpreendem, me iluminam; são de uma sensibilidade poética única.


beijo no coração