23 janeiro, 2011

como desenhar um rio inscrito na pele?

Jennifer Alder


escrever sobre um rosto é traçar numa tela a matéria do silêncio
como desenhar um rio inscrito na pele?
há palavras na boca que dizem a palavra, o início, há palavras que dizem pão,
há palavras no rosto há palavras há rosto há um rosto de palavras
na minha mão,

há uma fricção entre o rosto do mundo e o mundo do rosto
há a Voz de um rosto que resiste e revela por entre as mãos

há num rosto um olhar e um espelho,
um animal insubmisso, há uma substância mental
num rosto encontro um mapa de alianças, um fluxo de água
num rosto confluem poema e tempo
uma melodia de palavras em gestação

Gisela Ramos Rosa 23-01-2011


16 comentários:

Penélope disse...

Minha amiga Gisela, escrever em uma face é passear os dedos entre os mistérios dos mais variados sentimentos.
Lindo e adorável.
Abraços

Sandra Subtil disse...

Escrever num rosto é como pintar na alma e afagar as estrelas...
Beijo

Tania regina Contreiras disse...

E a pele...é a foz? E o rio, onde nasce? A fonte de um curso dágua não é, então, o grande mistério a ser desvendado?
Que beleza, Gisela...Um texto que encanta.
Beijos,

cs disse...

e essa melodia, gravada a cera na minha alma, molda-a e torna-a um espelho das palavras do meu silêncio.

(muito bonito o que escreve)

Magia disse...

Lindo Gisela:) Magnífico...
E "há um rosto de palavras na minha mão" e "há no meu rosto um olhar e um espelho"...:):)

João Menéres disse...

A TANIA também quer saber, GISELA.

Como as tuas palavras me enriquecem o espírito !

Um beijo.

Mar Arável disse...

Um rosto é um mapa
que transporta
e sugere
um palco de espelhos
indecifráveis
um cais de partidas e chegadas

bJ

Graça Pires disse...

Minha amiga Gisela. Gostei imenso deste poema. Há rostos que são pão ou fome, que são sede e fonte, que são amor e solidão. Mas como dizia um poeta "tudo o que ignoro em nenhum nome se diz".
Um grande beijo.

CÉU ROSÁRIO disse...

“…porque metade de mim é partida e a outra metade saudade…”
“…porque metade de mim é o que ouço e outra metade é o que calo…”
“…porque de mim é amor e a outra metade também…”

Beijinhos e boa semana!

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Eu amei esse poema, Gisela!
Fiquei impressionada com ele, com as imagens que criaste para algo tão comum: um rosto. Mas o poeta é mesmo um mago alquímico das palavras.


beijo no teu coração

Lídia Borges disse...

O rosto de todas as palavras, de todos os poemas ou inscrições que a voz silencia.

L.B.

Gisela Rosa disse...

Agradeço muito todos os vossos comentários nesta página. A palavra pode ter vários rostos, dependendo do ângulo, aqui procuro aquele rosto que unifica e transcende....este poema nasceu frente aos rostos que o poeta ARR desenha, aqueles rostos que nasceram da própria palavra.

Um beijo Malu, Sandra, Tânia, Magia, CS, Jão Menéres, Mar Arável, Graça, Céu, Elizabeth, Lídia

Unknown disse...

We do reflect everything on our skins (and our eyes). Very nice work. Regards from afar.
Jorge

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

saber desenhar um rosto
é entrar no largo de um olhar sobre o silêncio
cada traço abraça as linhas no “fluxo de água” de um rio
para cada gesto “confluem poema e tempo”
onde coloco outro rosto de palavras habitar as mãos.

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Belíssimo o poema de Gisela Rosa! Dizem que os olhos são as janelas da alma, e podemos dizer também que o semblante é o melhor mapa: como diz o poema, num rosto confluem poema e tempo...
Abraços alados!

Unknown disse...

Gostei do poema. Afinal por trás de cada rosto há muita magia. Um abraço.