06 março, 2010

Como a criança que quer voltar ao chão*

© Cyrille Andres


Há uma distância segura entre mim e as primeiras luzes que vi ao nascer. A matéria foi ganhando forma à medida que o meu nome cresceu e passou pelos lugares, pelas estradas sucessivas que fui encontrando. Imaginei linhas onde sonhos decisivos uniram o sono e a vigília. Nas manhãs o leite e o fogo como a seiva que à tona desliza ao andar. À noite a primeira morte foi sempre desde o começo este brilho que em mim se exilou. Não sei como explicar-te tantas coisas pela primeira vez:

e se me perguntares como tenho os pulsos neste momento em que escrevo, dir-te-ei que as correntes libertaram todas as marcas do deserto. Sim, as correntes foram sementes da prisão de onde as minhas asas se soltaram. Quando os olhos e a sede desenhavam circunferências e apenas a saída era o voo que rompia a placenta como um golpe de uma estação a florir.... para encontrar um outro lugar ou afluente onde as minhas mãos se uniram, já com a palavra fruto, foi preciso que uma escrita antiga me lembrasse a chave e o segredo dessa longa travessia.

Desculpa se me inclinei “como a criança que quer voltar ao chão” (Daniel Faria, Poesia, p. 241)

Gisela Ramos Rosa, 06-03-2010

18 comentários:

jazza disse...

beautiful picture...

José Manuel Vilhena disse...

Gosto imenso(imenso é um espaço largo,como uma sala de infância onde retivémos na memória o cheiro lavado da cera)quando escreve assim solto, que é o nome que eu gosto de dar à prosa.Gosto das palavras a andar.
um beijinho

myra disse...

muito mais que beautiful!!!! maravilhosa!!!!!! voce é simplemente fantastica, acho que ja estou me repetindo mas nao sei que outras palavras empregar para te dizer a emoòao ao ver estas tuas fotos, e tbien palavras!!!!
minha "maravilhosa" amiga, beijos imensos,

Breve Leonardo disse...

[segredos guardo; ao mundo mostro o balanço, o deve e o haver, das contas que ajusto com a palavra... apenas os desenhos se esquivam para os olhos que sabem ler o que dança no ajuste do que querem ver; eu danço, na letra, mesmo não sabendo em que passos tropeçar!]

um imenso abraço, Gisela
com toda a palavra

Leonardo B.

Lih Estevam disse...

Gosto daqui

byTONHO disse...



GisBelas palavras!
Grande cria(n)ção pareço diante delas...

be:)os!

João Menéres disse...

Podia ser o combóio da vida...
Vamos numa carruagem.
Podíamos ir noutra...
E a paisagem?
Seria a mesma?
Quem sabe?

Um beijo, GI.

Luísa disse...

Somos aquilo que vemos e muito mais aquilo que de afecto recebemos!
Que bom foi descobrir tudo à nossa volta e sentir o quanto nos ajudou a crescer!!!E, se me inclinar, sei que não vou cair, pois tenho alguém que me previne da queda ou suporta quando ela acontece.Há sempre alguém...
Beijinho terno!

Unknown disse...

uma foto belíssima, mestria no olhar :)

myra disse...

nao tem geito, tenho que vir aqui te ver...muitos muitos beijos e...um pouco de saudades...

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Que lindo, Gisela, que doce!
Ah, quando nos deparamos com um texto assim, parece que nossa alma ganha asas e fica mais leve.
beijos

Cristina Fernandes disse...

Um texto cheio de encanto, redefinido na beleza da foto. É sempre um prazer visitar-te por aqui.
Um beijo
Chris

myra disse...

aqui estou outra vez...muitos beijos...

Carmo disse...

Gisela, como sempre é um privilégio vir a este espaço. Obrigada

Bom fim de semana

Beijinhos

Carmo

Anónimo disse...

Que gran mirada y que bonita expresión...imagen para quedarse sin palabras...sensacional.

Un abrazo!

Dinho - Fotografias disse...

linda foto !

Cyrille Andres disse...

thank you very much for using my picture and citing my name :)

Cyrille Andres disse...

thank you for using my picture and mentionning my name :)