27 fevereiro, 2010

na minha língua há um sol

Dot at the end of day
© Matej Baco


Há um sol que se levanta e se põe

"No meu corpo como um eixo"* (Daniel Faria, Poesia)



tenho a língua suspensa nas margens da página

sinto-a como uma barca que embala

sílabas afectos densas utopias


procuro-a cerzida de mel e água e deslizo

ao desenhar janelas asas pontes e gaivotas



tenho a língua suspensa nas margens

de um sabor longínquo de saliva e pétalas

onde busco a palavra e o pão


há gestos na língua onde encontro um sol

arquitecto do sal do sangue da sombra

em que esbato sentenças opacas


tenho ainda uma rosa e um cravo na língua

com que teço os filamentos do verbo

e reclamo o mistério da fala


Gisela Ramos Rosa, 27-02-2010


17 comentários:

Breve Leonardo disse...

[do corpo, corpo palavra que se faz todo o horizonte, como se todo o mundo coubesse na palma duma mão fechada... basta um vento, uma brisa, uma metáfora e uma estátua de letras em águas correntes]

um imenso abraço, Gisela

Leonardo B.

Milhita disse...

Venho aqui, de vez em quando, o tempo para me deixar enternecer por palavras que são mais que silabas, são mais que prosa, são sentidos que a alma esboça. Fico, sinto e agradeço.
Bom fim de semana Gisela

myra disse...

aqui estou como todos os dias para te dizer sempre as mesmas palavras, mas nao tenho outras:MARAVILHA de foto, e lindas palavras que a acompanham! muitos beijos e bom Domingo,

byTONHO disse...



A palavra LUZ em tua boca...
As palavras luzem AM☼R!

BEIJ☼S!

Nilson Barcelli disse...

Estou maravilhado com a tua poesia.
Parabéns.
Voltarei para ler mais.
Boa semana.

dade amorim disse...

O corpo, o universo e suas palavras.
Belo poema, Gisela.

Saudade daqui.
Beijo beijo.

Ianê Mello disse...

Belíssimo poema.

Lindo todo o seu trabalho, que, na verdade, sempre admirei.

Você hoje me emocionou ao tecer um comentário em meu blog. Obrigada.
Precisacva disso naquele momento.

Grande beijo. Muita Luz!

luís filipe pereira disse...

Gisela,
felicito-a pela belíssima construção poética, pelo modo veemente e orgânico como, di-lo na coda do poema, "reclamo o mistério da fala".
Sempre belíssimo este seu espaço, talismã do sonho.
abraço
luís filipe pereira

Cristina Fernandes disse...

"Tecer filamentos do verbo" - um poema belíssimo que me prendeu do início ao fim.
Um beijo
Chris

Anónimo disse...

Lindo...

Graça Pires disse...

A língua "cerzida de mel e água" para reclamar "o mistério da fala".
Mais um poema lindíssimo!
Um beijo, Gisela.

Anónimo disse...

Sensacional momento. Felicidades!

Henrique Pimenta disse...

Bom golpe poético. Parabéns!

Mar Arável disse...

Sobretudo

um cravo e uma rosa

cerzidos

Bj

myra disse...

beijos para um bom dia, como sempre, minha linda amiga,

Carmo disse...

Gisela Maravilhoso poema com sabores a flores.

Beijinho

Bom fim de semana

Carmowhiendl

Anónimo disse...

"...e reclamo o mistério da fala" (sic)

eu reclamaria o mistério do cérebro!
É nele que se encontra o orgão impulsionador da linguagem que se liberta através da fala, descodificado em palavras...
Bonito poema Gi!

Beijinho