14 fevereiro, 2009

Se o poema não serve para dar o nome às coisas

António Ramos Rosa, fotografia de Gisela Rosa, Outubro de 2008

Arte Poética

Se o poema não serve para dar o nome às coisas
outro nome e ao silêncio outro silêncio,
se não serve para abrir o dia
em duas metades como dois dias resplendecentes
e para dizer o que cada um quer e precisa
ou o que a si mesmo nunca disse.

Se o poema não serve para que o amigo ou a amiga
entrem nele como numa ampla esplanada
e se sentem a conversar longamente com um copo de vinho na mão
sobre as raízes do tempo ou o sabor da coragem
ou como tarda a chegar o tempo frio.

Se o poema não serve para tirar o sono a um canalha
ou ajudar a dormir o inocente
se é inútil para o desejo e o assombro,
para a memória e para o esquecimento.

Se o poema não serve para tornar quem o lê
num fanático
que o poeta então se cale.

António Ramos Rosa, in Sema, 1980

8 comentários:

O'Sanji disse...

Quantas verdades! Só Ramos Rosa.
(as fotos continuam espectaculares).
Beijo

disse...

Olá Gisela,
Nesse post impressionou-me esse olhar de poeta que teima em não se calar... e ainda bem para nós.
Obrigada tb por realçar a poesia e o poeta.
Um bom fim de semana
Te

PAS[Ç]SOS disse...

Perdoe-me o poeta
a intromissão do não poeta
O poema serve para sonhar
e no sonho cabe tanta coisa…
O Poema serve para expressar
Tudo o que só a poesia permite
O Poema ensina-nos a dizer
o que de outra forma não conseguimos
O Poema é sol, é chuva
Outono, Primavera
O Poema é o que o Poeta quer
e o Poeta quer tanto...
que o não poeta só pode gritar:
Que não se cale o Poeta!

dade amorim disse...

Um poeta idealista, Gisela. E que bonito seu olhar!
Beijo.

Anónimo disse...

O´Sanji, O meu tio é mesmo assim, por isso gosto tanto dele. Das suas verdade! Um beijo.


Sem dúvida Te, ARR levanta a voz o mais alto que puder e lhe for permitido! Um beijinho

Passos, o poeta agradece-lhe...sim o poema é sol é chuva, é o humanismo que reside em nós...obrigada pelo comentário, um abraço


Adelaide, idealista e muito humano! Obrigada e um beijinho


Voltem sempre, um grande abraço a todos

ana salomé disse...

este é um poema para não esquecer todos os outros poemas.


fiquei arrepiada, juro* :D


beijinho

Gisela Rosa disse...

Ana Salomé!
Agradeço muito a sua passagem e palavras que aqui deixou! Acontece-me muitas vezes sentir esse arrepio na leitura das palavras de ARR por isso as transporto comigo como uma fanática...

Anónimo disse...

que não se cale(m) o(s) Poeta(s). Ámen

:)

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