24 fevereiro, 2009

Como um rio fluindo

Poema manuscrito de António Ramos Rosa, fotografia c/ marca de água de desenho de Gisela Rosa, 22-02-09 (O poema foi-me ditado pelo poeta, o manuscrito sofreu ligeiras alterações nesta transmissão)


À Gisela



Eu dir-te-ei mil vezes, rapariga, e já te disse
e agora também
como um rio só pode correr dizer, correr dizer
sem o o dizer
como um rio ri rindo como o rio rindo como um rio
e és tu sempre rapariga com o teu véu vermelho e verde
ou um rabinho de cavalo atrás do teu cabelo
preto
e agora só agora como um ribeirinho rindo
como só tu podes rir correndo
como um rio fluindo
de água verde num jardim verde
com os teus olhos azuis de um azul tão claro
da nudez que se entreabre
no teu vestido
Óh rapariga rapariga
nunca te tinha dito ou escrito
o que só tu
só tu
neste momento que ainda não chegou
em que ainda não chegaste

Como um rio que já começa a rir
e a correr e a rir
e sou eu e és tu e é o que já me faz correr
para ti entre os teus ombros
como uma chama
verde ou vermelha
e serás tu com o teu nome com o teu sorriso
e o teu desplante alegre
com o teu nome de gazela leve
se não fores se não és tu
tu mesma em vez de outra
quem ou o que poderias ser tu se não fores tu mesma
com o teu nome de Gisela
Gisela! Gisela!

António Ramos Rosa
22-02-09 (inédito)

12 comentários:

Anónimo disse...

"Gisela" é sem dúvida um nome poético e imagino a sua felicidade com este poema. o manuscrito tem um valor inestimável. parabéns!

Gisela Rosa disse...

Alice!

Obrigada pelas palavras! O meu tio está sempre a brincar com o meu nome, este poema aconteceu no passado domingo. Momentos antes de eu chegar ao pé do poeta. E ele não sabia que eu o ía visitar! Pressentiu a minha chegada. Adoro a sua caligrafia, vou decifrando-a! um abraço grande!

Henrique Dória disse...

Que felicidade ter alguém como Ramos Rosa, junto de si! Beijos

O'Sanji disse...

O olho azul tão bem retratado!
Que felicidade!
Beijo

Pedro S. Martins disse...

Gisela inspira a poesia, mas Ramos Rosa inspira uma vida.

Anónimo disse...

Caro Henrique, obrigada pelas suas palavras, é sem dúvida nenhuma uma felicidade ter um tio como o António!


Caro Pedro, não há comparação entre eles, são apenas familiares com uma grande afinidade. Obrigada pelo comentário.

Gisela Rosa disse...

Obrigada O´Sanji, o meu olho é verde, mas aceito que o meu tio o veja azul, um abraço pelas palavras!

mariab disse...

um prazer enorme, sem dúvida. e uma honra ser assim cantada por tão grande poeta.
beijos

disse...

Sente-se que esses encontros e a poesia pura alimentam a alma, o dia a dia da Gisela. É mt bonito...
E partilhar é mt nobre da sua parte. Bjinhos do Douro

Gisela Rosa disse...

mariab, obrigada pelas palavras.
os poemas que o meu tio me faz são gestos de afecto. Um beijinho


É verdade Te estou mergulhada na poesia, durante largos anos sobrevivi com ela e agora já não vivo sem ela! Um grande abraço

myra disse...

grande poeta teu tio, e voce é digna sobrinha!!!! beijos imensos

helenabranco.poet@gmail.com disse...

decidi-me o debruçar hoje sobre este nome RAMOS ROSA que trago de sempre embainhad por o saber tão próximo do que não consigo dizer mas...do que digo dentro...é tal a suavidade a fina graça que experimento que fico no silencio reverberando como um sino que impele o crente o peregrino a caminhar e no caminho encontro...

GISELA é certamente mais do que um nome raíz que comunga saliva genetica seiva de um mesmo Ramo(s) ROSA