por entre as mulheres,
elas têm nos vestidos
lírios, malmequeres,
ramos entrelaçados
rosas acesas;
os lábios são tocados
pela seiva doce
do ramo da roseira,
pelo gosto do jasmim
do batom sobrepassado.
a toque de brincadeiras;
as mãos têm riscos
transparentes na flor
dos braços, sem dor
de sangue, ainda quentes.
Laboram entre a folhagem
ao sol a poente.
Só o podador de galho na mão
impõe um gesto vermelho,
como uma lanterna, o podão.
num jardim de rosas arqueado,
quase rente ao alcatrão.
E as mulheres de riso aberto
lembram-se do seu país deserto,
as férias um dia
a chegada, a ida então;
os risos abertos de comoção
seriam plenos
como cá se diz do Verão.
As mulheres levantadas
transparecem na luz do sol
com as mãos fincadas nas cinturas.
são um farol do podão, um tremor;
o podador de guia em guia
labora, distende, cerceia, estria
puxa a si, ergue o galho
desconta a raiz
as mulheres riem no trabalho,
mas também cobram dores,
põem nas bagatelas reunidas
o falar desentendido
muito estranho ao podador;
debruçadas caem as pétalas de seus lenços
no chão,
colhem elas dos plásticos pretos
o estrume pousado perto, no alcatrão.
São mulheres simples como é comum dizer-se
do que luz,
do que é inteiro e sereno,
do que é intenso e seduz.
O riso une-as,
o podador impõe o podão
e a puxão arranca cerce as raízes,
tudo queda perfeito
no rumor dos dias quase felizes.
Estas mulheres têm casos simples com as rosas,
dedilham o chão das miudezas,
cuidadosas com o labor
daquelas simples certezas
que florescem além do chão,
mesmo antes do podador
admoestar no alcatrão.
Às vezes só uma se levanta,
faz juízo a uma nuvem
que nada traz ao Verão
é motivo de conversa,
todas se erguem para o longe
até o podador, se esquece do podão.
Lembram-se das terras de areias
tudo deixado, tudo ermo,
tudo desabitado nos olhos.
na terra muito longe,
sem uma gota para a sede
levantada agora pela nuvem
na memória dos dias,
no sufoco das estações.
José Ribeiro Marto, Andavam as mulheres no jardim, em Pastoreio pp. 27-30, 2009
* o título é um verso deste poema.
© Ferran Jorda
elas têm nos vestidos
lírios, malmequeres,
ramos entrelaçados
rosas acesas;
os lábios são tocados
pela seiva doce
do ramo da roseira,
pelo gosto do jasmim
do batom sobrepassado.
a toque de brincadeiras;
as mãos têm riscos
transparentes na flor
dos braços, sem dor
de sangue, ainda quentes.
Laboram entre a folhagem
ao sol a poente.
Só o podador de galho na mão
impõe um gesto vermelho,
como uma lanterna, o podão.
num jardim de rosas arqueado,
quase rente ao alcatrão.
E as mulheres de riso aberto
lembram-se do seu país deserto,
as férias um dia
a chegada, a ida então;
os risos abertos de comoção
seriam plenos
como cá se diz do Verão.
As mulheres levantadas
transparecem na luz do sol
com as mãos fincadas nas cinturas.
são um farol do podão, um tremor;
o podador de guia em guia
labora, distende, cerceia, estria
puxa a si, ergue o galho
desconta a raiz
as mulheres riem no trabalho,
mas também cobram dores,
põem nas bagatelas reunidas
o falar desentendido
muito estranho ao podador;
debruçadas caem as pétalas de seus lenços
no chão,
colhem elas dos plásticos pretos
o estrume pousado perto, no alcatrão.
São mulheres simples como é comum dizer-se
do que luz,
do que é inteiro e sereno,
do que é intenso e seduz.
O riso une-as,
o podador impõe o podão
e a puxão arranca cerce as raízes,
tudo queda perfeito
no rumor dos dias quase felizes.
Estas mulheres têm casos simples com as rosas,
dedilham o chão das miudezas,
cuidadosas com o labor
daquelas simples certezas
que florescem além do chão,
mesmo antes do podador
admoestar no alcatrão.
Às vezes só uma se levanta,
faz juízo a uma nuvem
que nada traz ao Verão
é motivo de conversa,
todas se erguem para o longe
até o podador, se esquece do podão.
Lembram-se das terras de areias
tudo deixado, tudo ermo,
tudo desabitado nos olhos.
na terra muito longe,
sem uma gota para a sede
levantada agora pela nuvem
na memória dos dias,
no sufoco das estações.
José Ribeiro Marto, Andavam as mulheres no jardim, em Pastoreio pp. 27-30, 2009
* o título é um verso deste poema.
© Ferran Jorda
5 comentários:
Felicito o autor deste belo poema feito a pensar nas mulheres de Cabo-Verde que laboravam nos jardins portugueses.
Bem haja,
Gisela Ramos Rosa
Um poema com a descrição exata do sentimento que jamais teria sendo homem, eu o invejo, muito belo e apaixonante!
Gemacedo, muito obrigada por seu comentário, volte sempre,
um abraço
Precioso retrato con una luz delicada, muy buen trabajo, me encanta este retrato !
abrazos
William,
encontrei este retrato e também me encantei.
O autor é Ferran Jorda,
un abrazo e gracias
Enviar um comentário