24 abril, 2010

no interior da esfera

Wheels
© Jorgen Dybdahl

Conta-me uma história como se fizesses girar a roda do tempo. Coloca-me nos dedos o movimento da semente que nos meus olhos germina. O chão moldou a tua passagem pela noite...mas o dia continua em ti..... sinto que escutamos o som dos veios rodando. e como aves desenhamos circunferências em torno de um eixo, o nosso próprio rosto...sulcamos o templo, o fogo e o metal da passagem...tocamos a porta para abrir um momento....

conta-me como um rosto consegue dilatar os círculos contendo o lado mais obscuro da matéria....agora que descobriste esta casa, repousa as mãos, olha ...conta-me... como se fosses o sopro que me acolhe no interior da esfera...


Gisela Ramos Rosa, 24-04-2010



22 abril, 2010

o mundo é um espelho*


Green grains
© Robert Fudali



...independentemente do grau de maldade, a natureza interior de todo o ser é o amor...esta qualidade essencial pode ser sempre revelada se manifestarmos o nosso próprio amor. Contudo o amor não é um mero sentimento; ele é a verdade última no coração de toda a criação. É incondicional e ilimitado, e irradia de nós quando estamos em contacto com o nosso eu não-local...


...imagine-se capaz de ver sempre possibilidades infinitas... (moksha, aforismo sutra)

*Deepak Chopra

18 abril, 2010

olha-me como se eu fosse o teu princípio

William Alexander López Amaya, Série Retatos "Hijos de Mi Tierra"
Huizucar, La Libertad - El Salvador


sempre que precisares olha-me como se eu fosse o teu princípio, a luz que em ti se instalou no momento da criação, eu sou aquilo que pensas ter perdido quando te pediram para cuidar do mal que de alguns Seres se apossou....não digas que a sensibilidade se esgotou..."sou familiar dos anjos que pousam sobre a vida"( Daniel Faria, Poesia, p. 73)...é possível regressar com os olhos da infância ao ponto que quiseres da vida, como se reconstituísses a película do teu próprio filme... e não te esqueças que as oliveiras continuam a crescer sempre onde seja possível a sombra de uma luz maior...olha-me quando te quiseres (re)encontrar...


Gisela Ramos Rosa, 18-04-2010


Agustin Talledo, um querido visitante argentino deste espaço acabou de traduzir para
a sua língua parte deste meu pequeno texto assim:...
(Gracias Agustin, por tu sensibilidad....)...



es posible regresar con los ojos de la infancia al punto que quieras de la vida, como si volvieras hacia atrás en tu propia película...
Y no te olvides que los olivos continúan creciendo siempre donde es posible la sombra de una enorme Luz...
Miramé cuando quieras para rencontrar-te...

Tradução de Agustin Talledo

15 abril, 2010

sim, alteio os meus olhos*

Silence coming
© Jasmina Gorjanski


* Daniel Faria, Poesia

11 abril, 2010

e confesso a mão,

L'altra metà
© fulvia menghi



imagino a outra metade coberta por um véu, a espessura, a sombra, um enigma por decifrar, o sol que divide as mãos, ou mesmo uma dança, dois corpos na proa de um barco, mas regresso sempre a mim e confesso a mão com o peso da raiz em comunhão...

Gisela Ramos Rosa, 11-04-2010


Leonardo B deu continuidade à minha prosa deixando-me um comentário....assim:


[... que sulcará a tua terra anónima,
o teu traço ignoto,
um broto de mar selvagem,
acontecido em ti,
impossível em ti então,
minha mão traça,
o barco que se atravessa no fundo de mim,
do barco sem fundo, sem remo
- Apenas um fragmento breve do corpo do mundo;
corpo eu, corpo tu, casa improvável breve azul mundo]


Leonardo B., 11-04-2010


Com o coração lhe agradeço Leonardo B!**

06 abril, 2010

no sagrado útero das minhas mãos*

taking my life in hands
© marelle


no tempo em que as crianças amanheciam
eu pensava em ter filhos como se bastasse
esfregar as mãos. eu sorria por dentro,
fechava os olhos com força, preparando-me
para o rebentamento das águas. os dias íam
crescendo, eu sentia o movimento de rotação
da terra, deitada de barriga para o ar.
porque o meu filho é um astro puro
à volta do qual a terra gira, no
no sagrado útero das minhas mãos.


alice macedo campos, em um cão em cada dedo, p. 16


*a alice teve a amabilidade de me oferecer e enviar o seu livro "um cão em cada dedo", quero agradecer-lhe com esta edição dizendo que a impressão que me deixou foi a dos primeiros versos, "o meu nome é ainda uma palavra/ com um rosto em definição." Gosto do livro todo alice, do seu tamanho e delicadeza, da sua escrita reveladora. Obrigada de coração!

02 abril, 2010

em leve plenitude*


From the album:
"Gestos" by Marcelo Novaes


Uma cabeça sonha nuvens
para o mundo real.
A mão constrói um barco
de folhas para o espaço.
O corpo perfaz o mundo
em acordes nupciais.
A fragrância derrama-se
em reverências cintilantes.
Sopro a sopro, os tesouros
passam no ar ligeiro.
Que evidentes delícias
de musicais relevos!
Íntimo dentro do espaço,
agora sou quem sou,
(o que respira e recebe),
Tudo culmina aqui
em leve plenitude
(tão fácil que é de todos),
unânime confidência.


António Ramos Rosa, O Não e o Sim, p. 117